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ALACP pauta temas relacionados à cultura e política no FSM

05/02/2009

As diversas nuances da cultura foram discutidas nos últimos dias de debate da Articulação Latinoamericana de Cultura e Política (ALACP). Políticas culturais, cultura política, cidadania cultural e linguagens culturais foram algum dos pontos trabalhados no encontro por personalidades importantes do cenário de toda a América Latina. Cultura de paz, sistemas políticos, direitos humanos, pluralismo cultural foram alguns dos temas propostos pela mesa.

A deputada Luiza Erundina, que integrou a mesa Sociedade Civil e Sistemas Políticos na América Latina, pensa cultura e política como um espaço mais eficiente para a discussão e a luta política. Ela também acredita a cultura como solução para romper com o formato viciado e retrógado do aparelho político atual, assim como para oferecer um espaço de luta mais coerente com a juventude atual. “A boa lei tem de estar identificada com as demandas da sociedade, que tem de participar deste movimento. A vitória da Constituição de 88 é graças ao protagonismo da sociedade civil organizada. Mas a partir daí a população se desmobilizou e o controle social ainda está para ser regularizado”, defendeu a deputada que conclamou as organizações civis presentes a pensar, através da articulação cultura e política, reformas estruturais e propôs, entre outras coisas, frentes parlamentares estaduais, para além das nacionais, para pressionar deputados e uma atuação cada vez mais presente e direta por parte dos movimentos sociais. “Não é qualquer tarefa, é uma grande tarefa e depende fundamentalmente da democratização dos meios de comunicação social”.

Carmem Silva, da SOS Corpo, que dividia a mesa com a deputada, confirmou o desafio de desenvolver formas de participação civil política através da articulação entre cultura e política sublinhando ser este um desafio necessário para romper com “a política isolada que se faz hoje em dia, com linguagem difícil, usando só a razão, e ainda por cima a razão ‘decoreba’”.

O evento contou com intervenções individuais e de movimentos sociais presentes. Hamilton Faria, coordenador da área de desenvolvimento cultural do Pólis e do Pontão de Convivência e Cultura de Paz, levantou algumas questões que problematizaram a ineficiência dos conselhos que atualmente agem deslocados da real dinâmica da sociedade: “O que o paradigma da sustentabilidade diz da participação? A política está deslocada da vida, é preciso haver um reencontro”.

Já na mesa Participação e Cidadania: Cultura na América Latina e Experiências dos Pontos de Cultura no Brasil, Célio Turino, Secretário de Programas e Projetos Culturais do MinC, Hamilton Faria, do Instituto Pólis, Eduardo Balan, do El Culebron Timbal (Arg) e Ivan Gonzáles, da Confederação Sindical dos Trabalhadores das Américas, compartilharam a mesa com representantes do Ponto de Cultura Pombas Urbanas de São Paulo. O debate, que teve uma intensa participação do público tratou do cenário atual da participação e da cidadania em diálogo com a cultura, além de alcances e desafios do projeto político cultural dos pontos de cultura.

A rede constituída pela inter-relação entre os pontos de cultura torna possível o empoderamento social, que tem sua base na aliança, na integração e na sustentabilidade que o projeto oferece. “Não é só responsabilidade do Estado fazer políticas culturais, mas de toda a sociedade”, afirmou Hamilton Faria.

Cultura e educação foi outra relação que ganhou destaque nos encontros da ALACP no FSM. O encontro contou com forte presença e intervenção de mulheres e indígenas. Outros movimentos de países como Peru, Argentina, Colômbia e Bolívia, trouxeram suas experiências e espectativas das políticas culturais.”A economia vem antes da cultura? Ou a cultura pode determinar a economia?” questionou Eduardo Balán, do El Culebron Timbal que trouxe para a discussão algumas das experiências políticas da Argentina. “Desassociar o jovem da política foi um dos maiores ganhos do neoliberalismo” disse a cantora Malena que vê na música uma forte linguagem de luta política entre a juventude.

A sociedade civil organizada leva como tarefa para o seu cotidiano a exigência, não só das instituições, mas também dos valores e comportamentos da sociedade para a afirmação dos direitos humanos. Com isso é possível entender melhor outras dimensões políticas da cultura, presente nos hábitos, no consumo e na linguagem.

O Fórum Social Mundial 2009 acabou, mas as discussões e as construções de redes que dele nasceram continuam. A ALACP possui uma página na internet que pretende ser um espaço de discussão contínua das temáticas apresentadas em Belém. A partir daí será possível construir construir novos paradigmas e trabalhos novos. Acesse www.culturaypolitica.com

* estagiária da área de desenvolvimento cultural do Pólis